quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Geração Uhuuu!

No dia primeiro deste mês, um grupo de arruaceiros causou pânico e destruição na Praia Grande, na Baixada Santista. Num surto coletivo de insânia, cerca de 1.500 jovens depredaram carros, lojas e residências em plena festa de réveillon. Os policiais, em número muito menor que o de desordeiros, só conseguiram controlar a situação por volta de cinco da manhã, após solicitar reforços de batalhões vizinhos.

Três "manifestantes" e três policiais ficaram feridos.

Treze pessoas foram detidas e indiciadas por crime contra o Patrimônio Público.

Dois dias depois, ocorreu um tumulto similar em São Vicente, onde carros, lojas, lixeiras e telefones públicos foram alvo de vandalismo.

Os cerca de 800 arruaceiros entraram em confronto com a polícia, atirando pedras e disparando foguetes contra os policiais, que reagiram com balas de borracha e bombas de efeito moral.

***
Baseado nesses dois episódios, o professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP, José de Souza Martins, escreveu um excelente artigo publicado no caderno “Aliás”, no jornal O Estado de S. Paulo do último domingo, sobre o "niilismo antissocial" que parece mover muitos jovens hoje em dia.

Selecionei alguns trechos interessantes que gostaria de compartilhar com vocês:

“Os arrastões deste início de ano põe em cena a criminalidade da classe média e o vazio com que se defrontam seus filhos sem causas altruístas a defender e sem projeto social e histórico com o qual se identificar. O fim da ditadura militar deixou os filhos dos setores sociais afluentes sem um inimigo a combater e uma causa de referência pela qual lutar.”

“A causa do impedimento de Collor reanimou a juventude politicamente enfraquecida pelo conformismo da geração adulta, cansada de guerra...”

“Mas havia ainda o ideário juvenil de uma esquerda dividida e sem um projeto de nação, representada sobretudo pelo PT, que cresceu na pregação de que só ele era o partido do progresso social, da democracia, das reformas sociais e econômicas, da justiça e da liberdade. (...) O caso do mensalão acabou por varrer dos espíritos dos jovens a convicção de que o partido estava acima de qualquer suspeita. Um conjunto de desencantos e enganos pôs em xeque a competência do partido para inovar social e politicamente. Os últimos anos deixaram para os jovens a certeza da orfandade política, do vazio e do cinismo.”

Esses jovens filhos da classe média, como ressalta o professor, “não são materialmente pobres, mas são pobres de esperança, pobres de competência para mudar o curso da história.” Eles questionam e combatem a ordem vigente, mas não tem um projeto melhor e mais justo para substituí-la. Usam de violência para afastar o marasmo, o tédio. Picham, depredam, agridem, urram, matam. Ateiam fogo em mendigos; espancam negros, nordestinos, homossexuais; homens e mulheres da classe trabalhadora. Compaixão é um sentimento que lhes é totalmente estranho. Eles não ligam a mínima para os problemas sociais do país ou do mundo. Querem curtir. Uhuuu! E fazem o que bem querem sem medo de represálias, como se o “manto sagrado” da juventude lhes facultasse uma blindagem inviolável contra qualquer tipo de repreensão. Eles se julgam deuses que tudo podem.

Mas, antes que me acusem de generalista ou de reacionário, quero enfatizar que existem jovens e jovens, e que a conduta da juventude atual está muito longe de ser uniforme. Há jovens (a maioria, a meu ver) com consciência social, que levam a sério seu papel de cidadãos responsáveis, e que deploram essa cultura fascista e autodestrutiva.

Eu, de minha parte, acredito que a juventude não passa de um engano. E que portanto não dá a ninguém o direito de entrar no BBB e urrar de prazer e desespero como um bom selvagem forjado na cultura do shopping center. Nem tampouco de sair por aí quebrando tudo e todos para espantar o tédio.

Ela, a juventude, pode (e deve) ser usada por pessoas de todas as idades para gozar a vida sem ferir ninguém ou destruir o Patrimônio Público. Pode ser usada em prol de causas sociais e políticas, como na eleição de Barack Obama à presidência dos EUA, para citar um exemplo expressivo.

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