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terça-feira, 6 de julho de 2010

Para não esquecer

Nasci em 1984, em pleno processo de abertura política, de redemocratização. Não vivi, portanto, os chamados “anos de chumbo” da ditadura, mas nem por isso tenho uma visão romântica do período. Todo o material que li, ouvi, e vi a respeito da “revolução” de 1964 é suficiente para que eu não incorra na leviandade de acreditar que a repressão político-ideológica por parte do governo da época tenha sido branda. Não foi. Está documentado. Nosso regime pode até não ter sido tão mortal quanto o foram o argentino e o chileno, mas foi violento, torturou, matou, deixou graves seqüelas.

Por isso é fundamental a criação de livros, filmes, museus etc. sobre as nossas “tragédias históricas”. Para que não as esqueçamos. Para que não se repitam jamais.

***

No livro Meu Querido Vlado (editora Objetiva), o jornalista Paulo Markun narra sua experiência como preso político e as circunstâncias que envolveram a prisão e a morte de seu amigo, o também jornalista Vladmir Herzog.

Há no livro trechos de depoimentos de outros presos políticos e de documentos oficiais da época que comprovam a brutalidade do regime.

A seguir, dois documentos extraídos do livro: uma recomendação de um chefe do Doi-Codi paulistano para tratamento de um preso, e o relato desse mesmo preso sobre as máquinas de aplicar choque utilizadas pelos militares.

Tratamento de Marco Antônio T. Coelho. Proibição de usar roupas, colchão, coberta, proibição de fumar e ler jornais; só pode tomar o café-da-manhã (pão e um caneco de café com leite) e uma colher de arroz no almoço e outra no jantar; só pode beber um caneco de água por dia (duas vezes, um caneco pela metade); deverá ser interrogado das nove da manhã até sete horas da manhã do dia seguinte, sem interrupção. Essa é uma determinação para as turmas A, B e C, a fim de quebrar a pretensa superioridade intelectual e cultural desse elemento.
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Quando lá passei existiam três dessas máquinas. Elas são armadas em caixas de madeira, mais ou menos toscas. A menor, a que chamam de “pimentinha”, foi pintada de vermelho; outra chamam de “brochômetro” e outra tem um dizer gravado – “saudações revolucionárias”. Às vezes ligam em série duas ou três dessas máquinas ao mesmo tempo. No principio, os fios são ligados nas mãos e / ou nos pés; depois passam para o pênis; em seguida “evoluem” para os tímpanos e a boca.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Olhos de Chimpanzé

Tive que postar na íntegra esse artigo do Luiz Felipe Pondé, que saiu na Folha de S. Paulo de ontem. Leiam e entendam por quê.

Os olhos do macaco

VOCÊ JÁ OLHOU nos olhos de um chimpanzé? Da próxima que for a um zoológico, faça isso. Você perceberá que ali existe uma alma presa como a sua. Seus olhos carregam um misto de espanto e tristeza que só humanos conhecem, que parece brotar de excesso de sensibilidade.

Sim, simpatizo com o darwinismo. Mas nem por isso sou ateu. Tampouco tem razão o grande filósofo Daniel Dennett, cujos livros devoro e a quem admiro na sua luta para combater a velha covardia humana travestida de fé, quando supõe que qualquer relação entre darwinismo e tradição monoteísta ocidental implica medo do ateísmo.

Não tento "casar" o darwinismo com qualquer "prova" da existência de Deus. Provar a existência de Deus me dá sono, nem acho possível prová-la. Como não levo a razão tão a sério, não temo suas incoerências.

Pelo contrário, minha simpatia está sempre contra as certezas da razão. Penso, sim, que não há nenhuma grande coerência na vida, nem uma narrativa única. Uma vida dilacerada entre narrativas contrárias me parece sempre mais sólida.

O conforto da certeza me entedia. Sou da velha escola: o sofrimento é que molda o caráter.

O darwinismo me comove, assim como Shakespeare. Quando ouço Macbeth dizer "a vida é um conto narrado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada", eu penso na luta cega de nossos ancestrais cuja humanidade foi cozida em sangue. E isso me comove.Converti-me ao darwinismo desde criança, ao ver aqueles desenhos nos quais imagens de hominídeos vão paulatinamente virando imagens de homens.

Mais tarde, quando não era não mais criança, convenci-me da verdade do darwinismo quando me vi diante das análises do comportamento humano produzidas pela psicologia evolucionista.

Não creio nas teorias que afirmam a construção social dos comportamentos, apesar de que algum grau de influência social em nosso comportamento obviamente existe.Prefiro a ideia de comportamento como destino, maldição. Mas minha relação com o darwinismo sempre foi mais estética do que um mero convencimento racional.

O que primeiro me cativou no darwinismo foi a descrição da origem do ser humano como uma saga contra um meio ambiente terrível e contra os horrores de nossa própria "alma" pré-humana.

A solidão dos nossos ancestrais combatendo os elementos externos e internos me parece uma ode à beleza humana, arrancada da indiferença das pedras.

A escuridão e a solidão do universo me encantam. Pensar que homens e mulheres são areia que um dia tomou consciência de si mesma e de sua solidão me parece um épico que canta nossa dignidade visceral.

A dignidade que só cabe aos desgraçados. Reconheço essa dignidade nos olhos do macaco: a dignidade da testemunha assombrada.

O horror de nosso passado, para mim, sempre foi motivo de orgulho. Sim, vejo o darwinismo como um drama cósmico do qual temos o privilégio de ser testemunhas assombradas. Sim, repito, a humanidade dos humanos foi cozida em sangue, uma pérola numa imensa massa cega de matéria.

Os ateus não deixam de ter razão quando apontam o pânico que muitas pessoas têm diante de descrições da vida como a darwinista. O filósofo Nietzsche (século 19) chama esse pânico de ressentimento. Daí nasceriam as bobagens platônicas e cristãs acerca de um outro mundo onde não haveria sofrimento.Mas o ressentimento de gente como Platão ou cristãos não é nada se comparado ao ridículo de algumas crenças atuais, mas que respondem ao mesmo pânico.

Por exemplo, pensemos na crença em "energias". Que os deuses me protejam de cair um dia no ridículo de "acreditar em energias". Odeio a palavra "energia". Energia isso, energia aquilo, hoje em dia qualquer um usa a palavra "energia" para seus delírios religiosos de consumo.

Digo sempre: quer uma religião? Procure uma de, no mínimo mil anos de existência, e preferivelmente que não tenha passado pela Califórnia ou pela física quântica.Seu sofá está sobre um cano de água? Humm, más energias. Você tem um câncer? Precisa "limpar" as más energias. O tratamento energético não te curou? Ahhh, você não estava preparado, precisa abrir sua mente. Ovos têm energia, alfaces têm energia, o azul da parede tem energia. As energias vão resolver o conflito israelo-palestino. As energias vão parar teu envelhecimento.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Entrevista de Lula na Band


O programa Canal Livre, da Band, exibiu ontem à noite uma entrevista exclusiva com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A conversa ocorreu em Brasília, no Palácio do Planalto, o que favoreceu muito o entrevistado. Se o encontro tivesse ocorrido em “território neutro”, talvez os jornalistas Joelmir Betting, Fernando Mitre, José Luiz Datena, Boris Casoy e Antonio Telles não tivessem se mostrado tão timoratos diante de um Lula seguro de si e articulado como nunca.

Mas, justiça seja feita, os entrevistadores bem que tentaram “cutucar” o presidente e extrair dele revelações sobre assuntos espinhosos - mensalão, censura, reformas várias etc. Entretanto, bom político que é, Lula soube escapar a todas as investidas, e ainda por cima reverteu alguns fatos a seu favor.

Como de costume, Lula colocou a culpa de muitos tropeços de seu governo em terceiros. Disse, por exemplo, que a reforma trabalhista só não aconteceu porque os setores interessados não chegaram a um acordo. Quanto às tentativas de controle da imprensa por parte de governistas, Lula objetou que, se houve propostas nesse sentido, elas surgiram de debates democráticos entre algumas associações de jornalistas, e que ele próprio acredita que os únicos atores que podem regular a imprensa são os telespectadores, leitores, e ouvintes.

Sobre a candidata do PT à presidência da República, Dilma Roussef, Lula afirmou que o fato de ela estar concorrendo é uma vitória da democracia, e que a ex-ministra vai surpreender nessas eleições. Aliás, a palavra democracia foi uma das mais citadas pelo presidente, que declarou não ter sequer cogitado a possibilidade de pleitear um terceiro mandato porque “com a democracia não se brinca”. Segundo Lula, esta foi uma das muitas convicções que ele adquiriu ao longo de sua trajetória. Outra afirmação acertada do presidente foi a de que a população brasileira jamais aceitaria qualquer tentativa de agressão à nossa democracia conquistada a duras penas e finalmente consolidada. Tal asserção não causaria nenhum tipo de estranhamento se não viesse de um político que apóia (e se diz amigo) de líderes totalmente antidemocráticos como Fildel Castro, Hugo Chávez, e Mahmud Ahmadinejad.

Essa pode não ter sido a “entrevista dos meus sonhos” com o nosso presidente, mas com certeza foi uma boa entrevista. Sobretudo porque Lula demonstrou que amadureceu bastante nesses oito anos de governo – apesar de ainda ostentar certa arrogância e megalomania.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Controle seu intestino

(um post filosófico e anti-higiênico)

Alguns de vocês dirão que perdi o juízo, mas nem isso me impede de escrever a sentença seguinte: A busca desenfreada pela qualidade de vida assola nossa sociedade.

Eu sei que você, distinto leitor, nada tem que ver com a legião de semi-analfabetos que garante a expansão do mercado de livros de auto-ajuda e demais títulos "úteis", fofos e gratificantes que atulham as prateleiras da meia dúzia de livrarias de que dispõe nossa grande nação. Também sei que você não sofre de acefalia – mal que campeia entre a maioria dos chimpanzés de classe média que enchem os carrinhos no supermercado, “passeiam” no shopping toda semana, trocam de carro e de aparelho celular todo ano, têm dois ou mais cartões de crédito, são vítimas de falso seqüestro, entre outras absurdidades. E é justamente por isso que me dirijo a você, pois sei que a chance de ser compreendido é maior. Não que isso tenha grande importância, mas a verdade é que até o mais cínico dos cronistas deseja encontrar leitores que se identifiquem com o conteúdo de seu discurso e /ou sejam capazes de criticá-lo com alguma habilidade.

O livro de auto-ajuda é, a meu ver, o objeto que melhor representa o estado em que a sociedade de consumo se encontra atualmente, o nosso zeitgeist. Os conselhos e as parábolas didáticas encerrados nas páginas dessas publicações denotam o grau de imbecilidade e alienação em que boa parte da população está mergulhada. Tudo o que importa é a busca pela qualidade de vida (leia-se felicidade), que pode assumir as mais variadas formas, dependendo do sujeito que a almeja. E o fato de eu ter deparado hoje na livraria com um livro intitulado Controle seu destino acabou por suscitar estas reflexões.

Não cheguei a folhear o referido livro; o que me manteve absorto por alguns instantes foi a suposição de que, se o título do livro fosse Controle seu intestino em vez de Controle seu destino, ele seria muito mais interessante. Livros de auto-ajuda deliberadamente utilitários, que orientam o leitor a realizar determinadas tarefas por conta própria, ou a se prevenir de doenças, por exemplo, não despertam minha antipatia. Os títulos que merecem meu total desprezo são aqueles que vendem uma “fórmula de felicidade”, que ensinam o sujeito a se tornar tão feliz quanto um chefe de família de propaganda de margarina.

A linguagem simplista e estúpida presente nesses livros está alinhada à adotada em determinados programas de tevê que têm como propósito ajudar o espectador a (supostamente) viver melhor. Oprah Winfrey entende um bocado disso. Outra apresentadora que se arvora em detentora da fórmula do bem-estar é a inglesa Gillian McKeith, cujo programa – também exibido pelo canal GNT – consiste em reeducar os hábitos alimentares dos britânicos. Numa das edições do Você é o Que Você Come, Gillian listou os 12 alimentos mais nocivos à saúde das pessoas, e, entre as muitas declarações categóricas que deu durante o programa, a que mais me chamou a atenção foi a de que apenas as fezes daqueles que se alimentam mal fedem. Ou seja, a merda de quem “come bem” é inodora, quiçá até perfumada, imagino. As pessoas só cagam fedido porque querem, afirma a apresentadora.

(Penso nos que dizem se alimentar apenas de luz. Sim, pois existem tais pessoas, que não ingerem nenhum tipo de alimento: vivem de luz. Qual será o odor da bosta deles? Aliás, se eles não comem nada, então nem devem produzir bosta nenhuma).

Há os vegetarianos radicais, que se julgam seres superiores à maior parte da humanidade, composta por bilhões de carnívoros empedernidos. Agem como se o fato de não comerem nenhum alimento de origem animal fosse uma espécie de ascetismo, como se Deus os preferisse aos demais mortais comuns. Há também os fanáticos da estética, que cultuam o corpo com ardor religioso, e não o “conspurcam” com alimentos não-saudáveis nem com o ócio. Os doutrinadores do sexo, que estão aí para nos ensinar a transar da maneira mais higiênica e eficaz, para que possamos sentir muito prazer e amiúde, mas sempre com muita segurança e assepsia. Sem esquecer os ditadores da moda, que forjam determinados patrões de beleza que excluem a maioria das pessoas desse mundo de gozo pleno, de glamour.

Autores e leitores de auto-ajuda e "literatura fofa"; apresentadores de tevê “do bem”; radicais da alimentação e da estética; doutrinadores do sexo; ditadores da moda e quejandos – corja que quer nos ensinar a viver bem, que quer nos vender a fórmula da felicidade. Por favor, nos deixem ser infelizes em paz.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Entrevista com o livreiro

O jornal Folha de S. Paulo publicou na edição de hoje uma ótima entrevista com Paulo Herz, dona da Livraria Cultura. Nela, o livreiro discorre, entre outros assuntos, sobre o futuro do livro, o problema da falta de leitores no país, e como a recente crise econômica mundial não afetou seus negócios.

Abaixo, reproduzo algumas declarações de Herz que chamaram minha atenção:

A novidade dos e-readers

“Em março vamos disponibilizar 150 mil títulos em formatos para e-readers. Eu acho que é uma opção a mais para o leitor. Não vamos vender o hardware, só conteúdo.”

O futuro dos e-readers

“Não sei bem, está tudo muito cru, muito no início, e não sei bem como serão as vendas. Acho que bem pequenas.

“Acho o e-reader uma ferramenta fantástica, mas daí a virar o substituto do livro... Já vi esse filme antes, já vi o VHS chegar e dizer que ia acabar com o cinema. Já vi, na Feira de Frankfurt, dizerem que o mundo ia virar CD-ROM, e o mundo não virou CD-ROM. Dois anos depois não se falava nisso, as editoras me falavam: "Pô, perdemos um dinheirão, admitimos um monte de gente e não deu em nada". A sensação que eu tenho é que a gente está vendo uma nuvem, que vai passar. Pode ser que chova, mas, num curto prazo, não vai acontecer nada.”

E-reader x livro de papel

“Imagina um advogado que vai fazer uma audiência no Acre e tem que levar aquela papelada do processo. Um editor de uma grande editora de livros, que recebe 50 livros novos por semana de todo mundo, para resolver se vai publicar ou não, ter isso digitalizado e num voo de 12 horas para a Europa ir dando uma olhada no que interessa ou não. É de uma utilidade fantástica, mas não sei se é a melhor ferramenta para o leitor de livros. E tem outra pergunta que eu faço: fará novos leitores? Quem não lê livro de papel, não vai passar a ler por causa do livro eletrônico.”

A formação de leitores

Acredito que quem faz leitor são os pais, inegavelmente. Os jovens leitores são filhos de leitores. Dificilmente aparece uma criança ou adolescente que não tenha os pais leitores. A grande campanha que na minha opinião deveria ser feita pelo governo é mais ou menos assim: "Se você não lê, como quer que seu filho leia?". Essa é a pergunta que deve ser feita. Porque os meus filhos "liam" sem ser alfabetizados, pegavam o livro na mão para imitar os meus gestos.

O faturamento da livraria

Segundo informações do repórter Fábio Victor, a Livraria Cultura possui atualmente 5 lojas (cinco em São Paulo e as outras em Campinas, Recife, Porto Alegre e Brasília), e pretende inaugurar mais três em 2010: em Salvador, Fortaleza e uma segunda na capital federal.

A rede tem mais de 3 milhões de títulos em catálogo e 1.400 funcionários (serão mais 400 para as três novas lojas). Em 2009, obteve faturamento de R$ 274 milhões, crescimento de 18% em relação a 2008.

“As vendas pela internet representam 16% do faturamento em 2009. É a nossa segunda loja. A primeira é a da Paulista (...) [No período mais grave da crise, entre 2008 e 2009] Nós crescemos legal, 18%.

A grande ameaça

A grande ameaça que existe é a não-formação de novos leitores. As famílias [ricas] que tinham cinco filhos há um século, hoje ou não têm nenhum ou têm um, no máximo dois. O número de leitores cresce pouco, se é que cresce. Se você pegar o universo da classe D, esse pai não tem orgulho nenhum do que faz, nem a mãe. Então a compra de um lápis significa para ele um investimento na educação de um filho. Acho isso extremamente bacana, é um raciocínio válido, mas sabemos que é insuficiente. O apagão do ensino taí, a dificuldade que temos de admitir gente é homérica. A gente aplica testes básicos dos básico de conhecimentos gerais razoáveis. A gente quer que o candidato leia jornais, uma revista, que seja atualizado. Você pergunta para ele quem escreveu "Dom Casmurro", metade levante e vai embora. E são todos universitários formados. E não sou o único que tem esse tipo de problema. Falei com outros empresários, de outras áreas, que têm exatamente o mesmo problema. Gente que não encontra engenheiros, que não encontra médicos. Veja o resultado do Enem. Está difícil acreditar. Esse crescimento anunciado é sustentado? Ou é um momento de paternalismo que está aí? Estou procurando gente [para as lojas] no Nordeste, tem gente que não quer ser registrada. Perguntamos por que, e dizem: "Ah, porque eu recebo a Bolsa [Família], minha mulher recebe a Bolsa. E a população cresce nesses lugares do Nordeste. E gente esclarecida que pode ter filhos está tendo cada vez menos, se é que está tendo. Conheço casais de amigos, leitores, muito bem casados, felizes, que preferiram não ter filhos.

Livros usados

“Minha mãe começou a livraria achando que muito livro valia a pena ser lido e não ser comprado. Ela começou alugando livro. Sou francamente favorável ao comércio de livros usados. E há espaço para todo mundo. (...) O que eu condeno é que um irmão mais novo não possa aproveitar o livro do irmão mais velho na escola. O que é que mudou na aritmética e na geografia? Por que tem que jogar fora esse livro. Hoje o governo até faz uma campanha para o aproveitamento [do livro didático], extremamente salutar, mas não é só. Por que o livro novo tem que ter um leitor por exemplar? Não tem biblioteca. Um livro, um leitor, é pouco.”

Bibliotecas públicas

[Sobre a nova Biblioteca de São Paulo]

“O [secretário estadual de Cultura, João] Sayad me falou que eles se inspiraram muito no modelo da [Livraria Cultura da avenida] Paulista, que é um local onde as pessoas ficam. Fiquei orgulhoso. É possível criar um lugar onde as pessoas se entretêm, têm opções para aprender e ver alguma coisa de concreto. A coisa mais bacana que achei é que ela vai funcionar nos fins de semana. Gente, o Brasil é o único país em que as bibliotecas fecham no fim de semana, quando os pais podem levar os filhos.”

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sentimento do Mundo

"Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo..."
Carlos Drummond de Andrade / Sentimento do Mundo

Não existe nada que eu preze mais numa democracia do que a liberdade de expressão. Para mim, o direito de manifestar livremente pensamentos e exercer qualquer prática religiosa ou comportamental (desde que esta não infrinja as leis estabelecidas) é o parâmetro cabal para se aferir quanto uma nação é realmente democrática. Qualquer país que não garanta esse livre exercício de dogmas e circulação de idéias a seus cidadãos não pode ser considerado um Estado democrático.

Partindo desse princípio, um país como a Venezuela, em que opositores do governo sofrem severas sanções quando questionam as atitudes dos poderosos, está muito longe de poder ser considerado democrático. Aquilo que o presidente Hugo Chávez chama de “novo socialismo” ou coisa que o valha significa, sobretudo, um retrocesso político enorme, que remete ao tempo dos regimes comunistas mais sombrios e repressores. E é paradoxal que Chávez, um notório admirador de Fidel Castro, queira transformar a Venezuela numa nação economicamente forte e igualitária (leia-se politicamente restritiva), modelo que Fidel também sonhou implantar em Cuba há cinqüenta anos, e que hoje parece cada vez mais distante do ideal. Cuba, em realidade, está cada vez mais próxima de se tornar um regime aberto e democrático – ou semidemocrático, vá lá - do que nunca, principalmente agora que os Estados Unidos de Barack Obama acenam com a possibilidade de suspender o bloqueio econômico imposto à ilha durante a Guerra Fria.

É indispensável que os governos democráticos do planeta repudiem tentativas de ruptura com a democracia por parte de qualquer nação. Foi o que fez a maior parte dos governantes da América do Sul em relação ao recente golpe de Estado ocorrido em Honduras. Embora o presidente deposto daquele país, Manuel Zelaya, estivesse inclinado a um tipo de governo chavista, assim como o presidente boliviano Evo Morales, a opção pelo golpe não pode ser considerada a melhor, porque, como é sabido, este tipo de resolução acaba enfraquecendo drasticamente o país, além de acarretar embates que terminam invariavelmente em banhos de sangue.

Do mesmo modo, é fundamental que os cidadãos de países em que a democracia já se estabeleceu há tempos - ou há poucos anos, como no caso do Brasil – sejam veementemente contrários a qualquer forma de censura por parte de seus governantes, por menor que ela pareça ser.

Nenhuma forma imposta de governo é salutar, a História comprova isso. A atual situação no Irã é um exemplo de que, tão logo surja uma oportunidade, uma população insatisfeita com seu governo irá se insurgir contra ele. Os iranianos têm usado de meios pacíficos e modernos para protestar contra a tirania dos aiatolás e de títeres políticos como Mahmoud Ahmadinejad. É impossível não se solidarizar com a luta do povo iraniano por liberdade. As imagens e mensagens que correram o mundo pela internet denotam um grande clamor de esperança, de justiça, de tolerância. E esse é também o sentimento de todos os que acreditam, sem qualquer pieguice ou saudosismo utópico, num mundo melhor.

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Esta canção deliciosamente utópica de Marisa Monte, Vilarejo, do álbum Infinito Particular, fala de um lugar em que vários povos convivem em harmonia.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Índios (3)

Homens brancos que vivenciam a experiência de passar uma temporada numa aldeia indígena costumam ficar impressionados com o modo de vida dos nativos. Confrontados com uma cultura totalmente diversa da sua, eles têm a oportunidade de compará-las e pesar as “qualidades” e os “defeitos” de cada uma, por assim dizer. Não são poucos os casos de brancos – principalmente estudiosos – que, após mergulhar no cotidiano de tribos indígenas, emergem fascinados pelo sendo de organização e a simplicidade reinantes nessas sociedades. O jornalista Washington Novaes é um típico exemplo de intelectual que conhece a fundo a questão indígena brasileira. Há anos ele se dedica ao estudo sociológico dessas comunidades, tendo inclusive desfrutado do convívio de tribos indígenas amazônicas mais de uma vez. Seu fascínio e admiração pelo modo com que os nativos se organizam em grupo podem ser conferidos, entre vários outros registros, num pequeno documentário produzido pela TV Cultura, o qual pode ser visto em reprises esparsas nas madrugadas do canal. Nesse depoimento, Novaes ressalta o respeito que os índios têm pela natureza, sua política social equânime, que privilegia o trabalha em grupo e dá voz a todos os membros da aldeia, bem como seu desapego das coisas materiais. Os índios não são consumistas. Eles se contentam com o necessário - não há produção em escala no universo indígena. Assim não produzem lixo em excesso. Se os rios e as matas de onde o índio tira seu sustento estão ameaçados, não é por culpa sua, e sim da ambição e da irresponsabilidade (leia-se estupidez) do homem branco. Os índios têm muito a nos ensinar, Washington Novaes reitera várias vezes ao longo do documentário. Ao contrário do que acreditavam os colonizadores, os gentis estão longe de ser selvagens. Não precisa ser nenhum especialista em cultura indígena para deduzir que os verdadeiros merecedores desse epíteto somos nós.

domingo, 17 de maio de 2009

Índios (2)

O filósofo australiano Peter Singer ensina bioética na universidade americana de Princeton, Nova Jersey. Domingo passado, a Folha de S. Paulo publicou no caderno Mais! uma entrevista que Singer concedeu ao jornalista Sérgio Dávila, na qual falou sobre como o consumo de objetos de luxo pode contribuir para o aumento da pobreza no mundo. Crítico do consumismo irresponsável, Peter Singer acredita que a pessoa que compra um produto cuja venda irá beneficiar alguém ou alguma organização rica, ou que não tem problema de dinheiro, está contribuindo para o aumento da pobreza, uma vez que sua atitude não ajudará quem mais sofre com a falta de recursos. Questionado por Sérgio Dávila se ao efetuar uma compra qualquer o comprador não está ajudando a manter uma determinada quantidade de empregos, o filósofo respondeu que sim, o consumo de um modo geral é benéfico à sociedade, mas que se pudermos conjugar consumo com responsabilidade social estaremos de fato ajudando a construir uma sociedade mais igualitária, ao invés de apenas circunscrever a riqueza a uma pequena camada de privilegiados.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Índios (1)

Há exatos três anos uma série de atentados protagonizados por bandidos do PCC (Primeiro Comando da Capital, organização criminosa que, entre outras atribuições, "controla" os presídios do Estado) aterrorizou a população de São Paulo. Como o próprio governador do estado à época, Claudio Lembo, confirmou, era uma tragédia anunciada. De acordo com Lembo, a polícia tinha conhecimento de um plano articulado pelos criminosos para imprimir um “estado de sítio” na maior cidade do país por meio de ataques a delegacias de polícia, agências bancárias, ao sistema de transporte público, e a outras instituições importantes. Mesmo ciente da intenção do PCC, a Justiça concedeu a muitos presidiários bem comportados o direito de passar o Dia das Mães com a família, e a polícia paulista não conseguiu garantir a segurança da população. Os atentados, que tiveram início no dia 12 e se estenderam até o dia 20 de maio, resultaram em 496 mortos em todo o estado, entre militares e civis. No domingo 14, Dia das Mães, toda a mídia se mobilizou para cobrir o saldo dessa onda de destruição, e à noite telejornais e “revistas eletrônicas” como Fantástico e Domingo Espetacular noticiaram a angústia das mães que haviam perdido seus filhos justamente no dia dedicado a elas. Ao longo da semana pudemos acompanhar pelo noticiário todo o terror perpetrado pelos bandidos que houveram por bem não retornar à prisão na segunda-feira, como determinara a Justiça. Nos velórios de policiais militares e civis, a bandeira nacional e do Estado de São Paulo cobriam os caixões, e as saraivadas de tiros e o som fúnebre dos metais encobriam o choro dos parentes. Nos sepultamentos de cidadãos comuns, nada de tiros ou música para abafar o pranto dos familiares. Passados três anos, aproximadamente 60% dos casos de homicídio ainda não foram solucionados.

domingo, 12 de abril de 2009

Questão de opiniães

Ontem, a Folha de S. Paulo publicou, no cada dia mais magro caderno Ilustrada, uma resenha de O Culto do Amador, livro em que o americano Andrew Keen critica, entre outros aspectos, a miríade de opiniões lançada cotidianamente na internet por todo tipo de gente. A resenha foi escrita pelo jornalista português João Pereira Coutinho, que avaliou a obra como regular. Segundo Coutinho, os ataques de Keen à imoralidade e à irracionalidade contidas na web são tão justificáveis quanto primários. A ojeriza a novas tecnologias sempre foi comum à parte da sociedade. Várias outras inovações sofreram certo tipo de resistência por parte de pessoas que as julgavam maléficas. E isso continua a ocorrer. O suposto perigo da má utilização da internet é apenas mais um capítulo desta história.

A principal crítica feita por Andrew Keen, um ex-executivo do Vale do Silício, é em relação à qualidade das opiniões enunciadas por amadores na rede. Para ele, as informações veiculadas por gente desqualificada tornam a internet um verdadeiro criadouro de imbecis. O fato de a web ser a mais fácil e prática fonte de informação contemporânea preocupa Keen, que acredita que sites como o Wikipédia contribuem para o fomento à ignorância de estudantes do mundo todo. O amadorismo corrente em blogs e comunidades de sites de relacionamento seria um insulto ao conhecimento acadêmico dos livros e dos manuais.

Como “representante” dos aventureiros que ousam publicar opiniões e outros tipos de escritos na rede, tendo a concordar mais com a análise de Pereira Coutinho do com a de Keen. Não acho que a possibilidade de qualquer pessoa divulgar suas idéias na internet seja ruim, por piores que sejam essas idéias. Ainda que o espaço virtual possa servir a usuários mal-intencionados, não creio que isso seja motivo suficiente para que se crie um órgão regulador ou coisa que o valha. As instituições e os mecanismos oficiais de defesa a que o internauta pode recorrer são suficientes, o que faltam são leis que estabeleçam penas severas a aliciadores de menores, estelionatários, e outras classes de bandidos que atuam no universo on-line.

Parafraseando parte da resenha de Pereira Coutinho, o que as autoridades competentes devem prover é educação pública de qualidade para que todo estudante, ao utilizar a internet para pesquisa, tenha capacidade de separar o joio do trigo. O resto é lero-lero.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Animais de estimação e de consumo

Os vegetarianos que me perdoem, mas carne é fundamental, ao menos na geladeira aqui de casa. E, nesses tempos politicamente corretos, de mudanças de valores prementes, de repensarmos nossa conduta de vida etc., sinto certa vergonha ao confessar que, pelo menos num futuro próximo, não me vejo parando de comer "animais mortos", como os vegetarianos radicais gostam de se referir às carnes que os humanos consumimos - sempre com o nobre propósito de nos chocar (e insultar).

Semana passada, assisti a um documentário americano chamado I Am An Animal, que relata a trajetória política de Ingrid Newkirk, co-fundadora do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), uma das mais importantes ONGs de combate aos maus tratos a animais no mundo todo. O PETA é a mais respeitável e temida dessas instituições, tanto por sua influência política quanto por suas manifestações de protesto, que envolvem desde ordeiras passeatas até pichações e depredações a butiques de luxo que vendem casacos de pele, bolsas, e outros produtos de origem suspeita.

Ingrid e seus pares contam com o apoio de várias personalidades americanas, bem como de algumas empresas e grifes como a Calvin Klein, que parou de utilizar materiais de origem animal na composição de suas roupas após sofrer forte pressão do PETA. Um dos métodos mais eficazes de persuasão utilizados pelos ativistas do PETA é a divulgação de vídeos em que animais aparecem sofrendo variados tipos de violência, muitas vezes gratuita. Para registrar esses flagrantes, a organização recruta jovens interessados em defender a causa e os envia a matadouros, criadouros e estabelecimentos correlatos, com a missão de documentar os maus tratos cometidos contra os animais.

Desnecessário dizer que as cenas contidas nesses vídeos são brutais, de revirar o estômago. Elas nos fazem repensar nossa postura de "carnívoros impedernidos", além de suscitarem um importante debate quanto à maneira que nós, os seres humanos, nos relacionamos com os animais de um modo geral. Tratar cães de estimação como iguais e trucidar aves e mamíferos para nossa subsistência é uma atitude correta? Comer um x-burguer ou se fartar numa churrascaria qualquer é compactuar com o sofrimento impingido aos bovinos nos matadouros?

Essas e outras questões espinhosas precisam ser debatidas. Escritores importantes como o Nobel sul-africano J.M. Coetzee, um notório defensor dos direitos dos animais, têm escrito ensaios e até romances em que o assunto é debatido sem qualquer forma de proselitismo. O próprio Coetzee talvel seja o romancista que trata de maneira mais elegante e contundente do tema em suas obras.

No Brasil, pelo que eu saiba, há alguns poucos escritores que tratam do assunto. Um deles é o carioca Rubens Figueiredo, autor do romance Barco a seco, do qual extraí o seguinte trecho:

Era o seu animal de estimação. E, na verdade, como não ter estima por quem obedece imediatamente aos nossos gritos e se curva com presteza às nossas repreensões e ameaças? Como não ter amor por quem podemos amarrar pelo pescoço e prender numa coleira e arrastar aonde bem quisermos, à força de puxões e pancadas educativas? Alguém que podemos trancar num minúsculo banheiro durante a noite e obrigar que fique em silêncio. Como não trazer no coração uma criatura a quem podemos, caso isso nos incomode, cortar um aparte do rabo e das orelhas, injetar hormônios, castrar, secar os testículos, ou retirar o ovário ou o útero inteiro, e com toda razão nos julgarmos, por isso mesmo. Como não prezar como um verdadeiro ser humano alguém que depois de tudo isso nos adora cegamente, geme de alegria atrás da porta quando ouve nossa chave tilintar e corre contente para lamber nossos pés quando chegamos da rua?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Terrorismo à americana


Há alguns anos os Estados Unidos vêm produzindo um tipo muito particular de criminoso: o atirador sem causa. Esses atiradores geralmente são jovens em idade escolar, tidos como freaks (esquisitos, desajustados) pela sociedade, com fácil acesso a armas de fogo, que planejam seus atentados meticulosamente, e cujas vítimas são colegas de escola, professores, e, em última instância, eles próprios.

O caso mais famoso dessa espécie de terrorismo é o do massacre de Columbine, ocorrido em abril de 1999 numa pacata cidadezinha do estado do Colorado. Na ocasião, dois adolescentes abriram fogo contra colegas e professores do Instituto Colombine, deixando 15 mortos, incluindo eles mesmos, que se mataram após a chacina.

Outros episódios dentro e fora dos EUA também marcaram época. No Brasil, o caso mais conhecido é o do estudante de medicina Mateus da Costa Meira, que em novembro de 1999 invadiu uma sala de cinema num shopping em São Paulo e disparou contra a platéia, matando três pessoas e ferindo outras cinco. O filme que estava sendo exibido quando do ataque era Clube da Luta, de David Fincher, e eu me lembro de Arnaldo Jabor espinafrando a obra de Fincher e o cinema de ação hollywoodiano de modo geral em seu comentário no Jornal da Globo, como se a violência perpetrada naquela noite fatídica houvesse sido transmitida a nós, os puros de coração, através do cinema americano. Simples assim.

Seria leviano afirmar que os americanos criaram essa nova categoria de terrorismo e a exportaram para o resto do mundo. Equivaleria a sustentar que as “raízes do mal” germinam apenas em solo americano, na terra do capitalismo desmedido, onde os fracos não têm vez etc. – o que é uma completa tolice. Do mesmo modo, acredito que a violência no cinema – ou nos videogames – não seja a principal propagadora do mal entre os jovens que cometem essas atrocidades. Ela até pode servir de modelo para os ataques, mas não me parece ser seu fator gerador.

Cineastas como Michel Moore (Tiros em Columbine) e Gus Van Sant (Elefante) investigaram, cada qual à sua maneira, os motivos que levam parte da juventude americana a cometer tais atos de desespero. O primeiro, utilizando o documentário como instrumento de investigação, acredita que o livre acesso a armas letais e o descaso do governo para com a população mais pobre do país seriam as principais causas desses atentados. Já o segundo, valendo-se dos meios ficcionais, atribui essas manifestações ao isolamento social e a fragilidades emocionais inerentes aos protagonistas. Ou seja, enquanto para Michel Moore as deficiências sócio-culturais são as verdadeiras vilãs, para Gus Van Sant, o problema maior está no silêncio dos jovens atiradores, um silêncio que denota medo e desesperança, e que, somado à extrema facilidade de se adquirir armas letais no país, acaba culminando em violência gratuita.

Sejam quais forem os estopins desses assassinatos, o fato é que eles estão se tornando cada vez mais constantes. Em 2007, houve chacinas dessa ordem numa universidade americana da Virgínia (32 mortos), e numa escola da Finlândia (8 mortos). Hoje pela manhã, ao acessar a internet, descubro que ocorreram mais dois casos do tipo, um na Alemanha e outro nos Estados Unidos. Este último se deu ontem no Alabama e envolveu um atirador que matou dez pessoas, entre elas um bebê de um ano e meio e sua mãe, além dele próprio. Até agora a polícia local não sabe o que motivou o crime. No sudoeste da Alemanha, um rapaz de 17 anos invadiu sua antiga escola na manhã desta quarta-feira e abriu fogo contra alunos e professores. Dezesseis pessoas morreram, incluindo o adolescente, morto em tiroteio com a polícia.

Como disse Bob Dylan em sua célebre canção, the times are changing. Ou melhor, things have changed.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Everything is broken

No post anterior, compartilhei um triste dado acerca da nossa sociedade com vocês: o uso irresponsável e aleatório de psicotrópicos. Acredito que a onipresença da finitude que nos assola (violência urbana e doméstica, crise econômica, aquecimento global) esteja nos fazendo recorrer a esses medicamentos. Essa, contudo, é uma análise bastante superficial. Cada um "se droga" por um motivo singular. E nós não começamos a nos drogar ontem.

Eu faço uso de um mesmo antidepressivo há cerca de seis anos. Tomo porque, segundo o médico com o qual me trato, sou um ansioso crônico. E o tratamento contínuo com cloridrato de paroxetina ajuda a mitigar minha ansiedade, e, principalmente, a impedir que em certos momentos ela chegue a um patamar tal que me leve a sofrer graves crises de pânico. Nunca contei isso a meus amigos. (Talvez eu me arrependa de fazê-lo agora.) Sempre tive vergonha. Por mais que hoje haja muita informação ao alcance de todos, muita gente ainda tem preconceito contra o usuário de psicotrópicos. Na última ficha de emprego que preenchi, omiti o fato de usar um medicamente diariamente. Achei melhor assim. Talvez eu tenha agido errado, mas não estou em condições de ponderar sobre isso agora.

Queremos dizer a verdade, mas não dizemos a verdade. Quando muito, nos aproximamos da verdade. Desejamos ser francos e honestos, porém nunca o somos completamente. Por medo de sermos rejeitados, escondemos nossa vergonha. Até que um dia ela vem à tona intempestivamente e nos envenena. Chafurdamos nela, a lama da nossa vergonha omitida.

Escrevi um livro de ficção para expor minha vergonha publicamente. Enviei-o a alguns editores e recebi recusas. Enviei-o para a apreciação de escritores "consagrados" e recebi elogios, reprimendas, e comentários mais ou menos gentis e encorajadores. Por fim, decidi enviá-lo a um concurso literário e o fiz. O resultado deve sair ainda neste mês. Não tenho muita esperança - e sinceramente nem sei se quero vê-lo publicado. Talvez seja contraproducente.

Queremos dizer a verdade, mas...

***
Planet Telex, Radiohead

terça-feira, 3 de março de 2009

Uma nação de ansiosos

O Grito, de Edward Munch
Desculpem, mas não me ocorreu nada menos clichê para ilustrar este post

Vocês têm idéia de qual é o medicamento mais vendido no País? Acertou quem respondeu Microvilar, anticoncepcional que vendeu 20 milhões de unidades em 2008.

Mas alguém aí sabe dizer qual foi o segundo remédio mais vendido em 2008? Não? Então respondo eu: Rivotril.

Segundo o IMS Helth - instituto que controla a indústria farmacêutica -, esse ansiolítico e anticonvulsionante vendeu cerca de 14 milhões de unidades no ano passado, desbancando medicamentos corriqueiros como Neosaldina, Buscopan e Tylenol. Até a famosa pomada contra assaduras Hipoglós vendeu menos que o tal Rivotril.

Matéria publicada na edição de 28 de fevereiro da revista Época informa que a classe dos tranqüilizantes é a sétima mais vendida no Brasil, e que o "fenômeno Rivotril" se deve, em grande medida, ao preço baixo do medicamento (uma caixa custa em média R$13,00), bem como ao diagnóstico incorreto de muitos médicos, que prescrevem Rivotril para pacientes que se queixam de dor de cabeça, estresse, gastrite etc. Isso, segundo especialistas, gera uma banalização do uso de antidepressivos - o que acaba por deixar milhares de pessoas dependentes de medicamentos controlados, os quais nem sempre são os adequados para tratar determinados casos.

Outro fator que colabora para a alta vendagem do Rivrotril é o que muitos psiquiatras chamam de "glamorização do ato de medicar-se." Isto é, os medicamentos psiquiátricos, antes vistos com maus olhos pela sociedade, de uns anos para cá passaram a ser aceitos com certa naturalidade. A ingestão desse tipo de remédio está até associada a status; quem pode, paga para se ver livre das angústias. Questões existenciais são tratadas da mesma maneira que distúrbios psíquicos; estar triste, deprimido ou ansioso - estados por que qualquer chimpanzé pode passar naturalmente - está sendo encarado como doença. E ninguém quer sofrer "à toa".

Lembro uma vizinha idosa que, após perder o marido, passou a tomar calmantes para dormir. Os filhos descabeçados eram outra grande fonte de problemas. De uma hora pra outra os cabelos daquela mulher tornaram-se branquíssimos. Passava o dia trancada no quarto e só fazia chorar. Haviam sido uma família de posses; agora viviam de uma pensão mixuruca. Às vezes, a velha saía de casa à noite e ia até a casa da lavadeira, que era quem lhe fornecia os calmantes. A filha da lavadeira era enfermeira e cuidava de arranjar os remédios no posto de saúde em que trabalhava. Até hoje lembro com horror o desespero da velha, quando a lavadeira lhe dizia que não tinha calmantes para lhe dar. Ela fincava os dedos alvos e enrugados na cabeleira algodoada e praguejava contra Deus e o mundo. Então a lavadeira a levava pra dentro de casa e lhe preparava um chá de capim cidreira. Um dia a velha dormiu e não acordou mais. Os filhos a acharam estirada na cama, com um terço numa mão e uma caixinha de calmantes na outra. Só a lavadeira chorou de verdade no velório.

Nós, que já fomos o povo mais feliz e festeiro do mundo, hoje somos uma nação de ansiosos.

Será possível?

Garçom, um Rivotril, por favor!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

De volta ao planeta dos macacos

A atriz Anecy Rocha em cena de A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Júnior

Findos os quatro dias de folia, voltamos à nossa rotina de chimpanzés.

É hora de fazer um balanço da festa: contar os mortos nas estradas, os mortos a tiro, os bêbados mortos, os amores mortos... Triste contabilidade, enfim. Mas sem novidades no front.

Os puxadores de samba (Jamelão odiava que o chamassem assim; dizia que era cantor e ponto), os mestres-salas, as porta-bandeiras, os mestres de bateria, os carnavalescos cairão no ostracismo durante doze meses, após o quê emergirão do anonimato para serem novamente celebrados por todos nós. As rainhas de bateria profissionais (Luma de Oliveira, Luiza Brunet, Adriana Bombom, Viviane Araújo etc.) nos privarão de seu charme e gostosura durante todo esse tempo. Os orixás também voltarão à clandestinidade, como os camelôs e as putas. Nossa sociedade predominantemente católica só os tolera durante o carnaval, quando então podem ser enredo de escola de samba, ir atrás dos trios elétricos (se tiveram 600, 800 reais para comprar um abadá, claro), se vestir de mulher e brincar num bloco qualquer, whatever. Podem até aparecer na televisão - o que, em última análise, os legitima.

Confesso que dei uma espiada nos desfiles das escolas de samba do Rio, de São Paulo, e daqui de Guaratinguetá. Achei tudo muito parecido e, salvo poucas exceções, tedioso. Mas talvez a culpa não seja das agremiações, e sim minha. Fevereiro está sendo o mês mais longo desta minha vida besta. Outra hora eu explico por quê.

Luiz Zanin, crítico de cinema do Estadão, em post recente em seu blog, lembrou que A Lira do Delírio é, provavelmente, o melhor filme brasileiro cuja trama se passa durante o Carnaval. Concordo. Walter Lima Jr. fez um desses filmes que nos encantam pela maneira "despretensiosa" como foram filmados. Tudo parece muito natural: os atores flanam pelos cenários, inebriados, eufóricos, apaixonados. Nada é estilizado. Não é cinema-favela, nem cinema-agreste. É CINEMA e fim de papo.

Convém ressaltar que esse tipo de cinema (naturalista, marcado pela improvisação) não é o único que me interessa. Nem tampouco estou aqui para fazer a defesa irrestrita do cinema nacional. Ocorre que A Lira do Delírio é um projeto nessa linha de dramaturgia calcada na parceria ator-diretor - em que o roteiro é criado conjuntamente, com o mínimo de premeditação - que deu certo. Não por acaso o filme se tornou um clássico.

E mais não digo. Porque já estou ficando pernóstico.(Graciliano Ramos gostava desse adjetivo: pernóstico; seus livros estão cheios dele. Foi assim que aprendi a gostar também.)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Haja vaselina!


Primeiro, leiam um trecho desta notícia:

O Ministério da Saúde gastou R$ 1,1 milhão no final do ano passado com a compra de 15 milhões de sachês de gel lubrificante que devem ser distribuídos durante o ano de 2009. O produto é indicado para o uso em relações anais de grupos mais expostos ao contágio do HIV: travestis, homossexuais e profissionais do sexo.

Agora, deleitem-se com o início do artigo que a jornalista Ruth de Aquino publicou na revista Época do dia 09/02:

Agora entendi o verdadeiro destino dos 15 milhões de sachês de gel lubrificante comprados pelo Ministério da Saúde para distribuir no Carnaval. O castelo do corregedor da Câmara, Edmar Moreira, é difícil de absorver a seco. Dói nas entranhas da consciência brasileira a empáfia do deputado: “Renunciar por quê? Estou sendo condenado por qual tribunal?”. O pior é que Edmar está certo na presunção da impunidade. Ele conhece seus colegas pelo avesso do avesso do avesso.

Clique aqui para ler a íntegra do artigo da Ruth. Vale a pena. Pois, ao contrário do castelão sinistro e brega do Ed, desce suave, dispensando assim a necessidade de lubrificante.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ontem faltou água, anteontem faltou luz*

Sem água encanada nem energia elétrica voltamos à Idade Média.

Ontem, um problema técnico na estação de tratamento de água da cidade suspendeu o abastecimento durante mais de doze horas. Por volta das três da tarde a água começou a escassear. Em pouco tempo não havia mais uma gota sequer nas torneiras. Ficamos dependentes da água armazenada na caixa, que com alguma economia (banho decente nem pensar!) supriu nossas necessidades até o início desta madrugada, quando então amargamos uma seca total.

Fui dormir às 3:30 da madrugada. Ainda não havia água. O abastecimento só foi normalizado no início da manhã. Desconheço o motivo do problema. Contudo, um dia assim nos dá uma idéia do quanto sofrem as populações que convivem diariamente com uma severa escassez de água. Penso nas gentes sertanejas. Em algumas tribos do Oriente Médio. Na “gente humilde” do litoral, que agora no verão tem o fornecimento comprometido em razão da descida em massa da classe média para a praia. Mas não só neles. Há muitas regiões em que a oferta de recursos hídricos é precária. Como vocês sabem, a água potável do planeta está cada vez mais rara. E, segundo os estudiosos mais pessimistas (ou realistas?), dentro de 25 anos enfrentaremos um grave problema de falta d’água.

As fortes chuvas desta época costumam provocar constantes blecautes. Só este mês já houve dois aqui na cidade. Foram breves e não causaram prejuízos. Nada comparável aos apagões do início da década – quando vivemos literalmente nas trevas. Li muito à luz de velas nesse tempo. Quase ateei fogo no meu colchão. Fazia curso técnico em administração à noite e lembro que ficamos no escuro algumas vezes. Gritaria e tumulto nos corredores da escola. As meninas reclamavam do assédio. Não passei a mão em ninguém – e acho que não passaram a mão em mim. Meu amigo Carlos deve ter bolinado algumas garotas; ele tem cara de sex offender. Brincadeira, Carlos!

E justamente ontem, dia da seca, eu assisti a uma reportagem no canal do Edir Macedo sobre uma tribo primitiva da Nova Guiné que, entre outras excentricidades, mora em casas nas árvores. São cerca de trinta pessoas que habitam uma floresta, da qual tiram tudo que necessitam para sobreviver. Eles não conhecem energia elétrica nem tampouco água encanada. Falam um dialeto milenar e quase não têm contato com a civilização. Vivem em harmonia com a natureza. Conservam costumes para nós muito estranhos, como o de andar nus, apenas de tapa-sexo, e, no caso das mulheres, o de se “enfeitar” com cicatrizes feitas com lenha em brasa. Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de eles sacrificarem membros da tribo que contraem doenças incuráveis. Visto que vivem em condições precárias, não é raro que algum deles caia muito doente e acabe sendo morto pelo grupo. Ou seja, eles praticam eutanásia há milênios. E isso me fez lembrar imediatamente de Eluana Englaro, a italiana de 38 anos que há dezessete vivia em estado vegetativo, morta ontem após ter sustados os canais que a alimentavam e hidratavam. O pai dela ganhou na justiça o direito de pôr fim ao sofrimento da filha. Eluana entrou em coma irreversível após sofrer um acidente de carro.

* Verso da canção Eu era um lobisomem juvenil, da Legião Urbana.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

De ex-pecadores e ex-terroristas

Do blog da jornalista Barbara Gancia:

1. E já que o assunto é religião ou a fé embalada para consumo, que tal estas camisetas lançadas pelo Movimento Pela Paixão de Cristo, dos EUA?


Além do modelo acima, existem também as versões “Ex-fornicador”, “Ex-homossexual” e “Ex-Escravo” (?)

Mas é como dizem: todo “ex-masturbador” e “ex-fornicador” deveria ter uma segunda camiseta com a frase “atual mentiroso”...

2. União Européia pede ao Brasil que reconsidere caso Battisti

"O parlamento de Estrasburgo ficou calado até o último minuto, mas acabou passando resolução pedindo ao Brasil que reconsidere o refúgio concedido a Cesare Battisti, levando em conta os acordos bilaterais assinados pela UE e o Brasil.Em nota oficial, a UE afirma que “a sentença emitida pela Itália respeitou os plenos princípios de legalidade que servem de fundamento para a União Européia”.

Digo e repito: na hora em que os amiguinhos tapuias do criminoso italiano perpetraram a burrada, eles não tinham noção do que estava por vir, não é mesmo, eminente jurista Dalmo Dallari?

***
1. Os Estados Unidos são mesmo uma nação incrível. Concentram em seu território desde grupos religiosos ultraconservadores até a maior indústria de pornografia do mundo. Há estados americanos em que as práticas de sexo oral e anal são ilegais. Por outro lado, a cidade de São Francisco, na Califórnia, onde aliás o casamento entre homossexuais é permitido por lei, é a capital mundial dos gays. Se você está a fim de sair do armário e ser feliz sem dar satisfação a ninguém, tem de mudar-se para lá. Ir para Cuba ou para algum país islâmico, nem pensar. Depois não digam que eu não avisei. Se bem que, como li outro dia numa revista, o governo da Indonésia - país com a maior população de muçulmanos do planeta - mandou construir um banheiro para uso exclusivo dos alunos transsexuais em cada escola pública. Uau! E eu que pensava que na Indonésia só havia praias deslumbrantes e dragões-de-komodo. Que nada! Lá também há vida inteligente.

Quanto às camisetas cristãs, será que a moda pegaria no Brasil? E se pegasse, que frase você estamparia na sua camiseta: ex-pecador, ex-petista, ou ex-corintiano?

***
2. Caso Cesari Battisti. Vocês leram a carta de misericórdia que o ex-terrorista divulgou na imprensa brasileira? Quase fiquei com pena dele. Mas continuo achando que ele tem culpa no cartório. E vejam que não sou o único: agora a União Européia pediu que o Brasil devolva Battisti à sua pátria-mãe. Não bastasse o pedido formal do parlamento europeu, o ex-esquerdista perdeu ainda uma importante aliada, a primeira-dama francesa Carla Bruni, a feiosa da foto abaixo. Ela negou recentemente que tenha intercedido a favor de Battisti junto ao governo brasileiro, mas há quem assevere que ela tenha movido uns pauzinhos para garantir o asilo político ao compatriota. A julgar pela influência do maridão da musa na política internacional, o italiano sofreu uma baixa considerável.

Que os ex-masturbadores não vejam esta foto

Mas chega de Cesari Battisti. No momento, as únicas coisas oriundas da Itália que me interessam são o livro-reportagem Gomorra , de Roberto Salviano, e o filme homônimo baseado nele, que (merda! merda! merda!) está em cartaz apenas nas grandes capitais do País.

Marley & Eu o cacete! Eu quero cinema DE VERDADE!

E mais não digo. Até.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O fim do mundo e outras lorotas ou Passando o chapéu

Poema da necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

(Carlos Drummond de Andrade in Sentimento do Mundo)

Acrescento: É preciso pagar a conta do telefone.


Where is the fucking money?

É grave a crise, my fellows! Os telejornais noticiam o flagelo da indústria nacional. Queda de 12,4 % na produção - demissões em massa. Os bancos, contudo, nunca lucraram tanto. Spreads altíssimos, brada o presidente Lula, indignado. Mas se deu conta dos lucros absurdos que o setor bancário tem obtido nos últimos anos só agora? Depois os escribas da imprensa o chamam de apedeuta e ele se ressente. Quem manda dar entrevista dizendo que tem ojeriza à leitura dos jornais? Será que só o noticiário político-econômico lhe dá azia, ou a palavra escrita de um modo geral?

Clóvis Rossi (sensato e competente como sempre) escreveu na Folha de S. Paulo que essa crise financeira não é uma quimera nem uma tragédia natural. Ela foi gerada pela irresponsabilidade dos mercadores de crédito internacionais, banqueiros, especuladores, dirigentes de instituições financeiras de vulto como Allan Greeenspan e quejandos. Ou seja: não é um tsunami - muito menos uma marolinha -, mas sim um achaque de proporção global. Desculpe a indelicadeza, leitor, mas o que eu quero dizer é que colocaram no nosso rabo, entendem? E o pior é que esses caras receberam bônus milionários por seus serviços. Suspeita-se ainda que a fonte desse dinheiro seja a “ajuda financeira” concedida pelo governo americano às instituições de crédito. Ahá! Os manos tripudiaram. Fizeram os governantes de bobo. Lá, agora vejo, é como cá.

Mas eu confessava que é preciso pagar a conta do telefone... Mas como? Cá estamos todos desempregados. A mocinha da Telefonica aquiesceu em parcelar nossa dívida em quatro vezes. Agora só precisamos passar o chapéu. Será que Allan Greespan não dava uma forcinha? Alguém aí tem uma ideia? Pensei em colocar um cofrinho aqui no blog. Se cada um dos meus dois ou três leitores colocasse uma moedinha toda vez que acessasse o blog, quanto eu arrecadaria por mês? Talvez desse pra comprar um açaí-na-tigela, se bem que o preço do açaí subiu... Até tu, açaí!?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Bolsa Bichano

Contando ninguém acredita. Mas, no interior do Mato Grosso do Sul, um gato recebeu R$20,00 do Bolsa Família durante sete meses.

A notícia é antiga (foi noticiada pela imprensa no dia 24 de janeiro), mas eu só tomei conhecimento do caso ontem, enquanto lia os jornais da semana passada na Biblioteca Pública de Lorena.

A patuscada envolvendo o gato Billy, que, diga-se de passagem, não teve culpa de nada, é inegavelmente engraçada. Porém não há motivo para risos quando pensamos que existem inúmeros beneficiários ilegítimos de um programa que visa a amparar aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza ou se equilibrando nela constantemente.

Mais informações aqui.