sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sentimento do Mundo

"Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo..."
Carlos Drummond de Andrade / Sentimento do Mundo

Não existe nada que eu preze mais numa democracia do que a liberdade de expressão. Para mim, o direito de manifestar livremente pensamentos e exercer qualquer prática religiosa ou comportamental (desde que esta não infrinja as leis estabelecidas) é o parâmetro cabal para se aferir quanto uma nação é realmente democrática. Qualquer país que não garanta esse livre exercício de dogmas e circulação de idéias a seus cidadãos não pode ser considerado um Estado democrático.

Partindo desse princípio, um país como a Venezuela, em que opositores do governo sofrem severas sanções quando questionam as atitudes dos poderosos, está muito longe de poder ser considerado democrático. Aquilo que o presidente Hugo Chávez chama de “novo socialismo” ou coisa que o valha significa, sobretudo, um retrocesso político enorme, que remete ao tempo dos regimes comunistas mais sombrios e repressores. E é paradoxal que Chávez, um notório admirador de Fidel Castro, queira transformar a Venezuela numa nação economicamente forte e igualitária (leia-se politicamente restritiva), modelo que Fidel também sonhou implantar em Cuba há cinqüenta anos, e que hoje parece cada vez mais distante do ideal. Cuba, em realidade, está cada vez mais próxima de se tornar um regime aberto e democrático – ou semidemocrático, vá lá - do que nunca, principalmente agora que os Estados Unidos de Barack Obama acenam com a possibilidade de suspender o bloqueio econômico imposto à ilha durante a Guerra Fria.

É indispensável que os governos democráticos do planeta repudiem tentativas de ruptura com a democracia por parte de qualquer nação. Foi o que fez a maior parte dos governantes da América do Sul em relação ao recente golpe de Estado ocorrido em Honduras. Embora o presidente deposto daquele país, Manuel Zelaya, estivesse inclinado a um tipo de governo chavista, assim como o presidente boliviano Evo Morales, a opção pelo golpe não pode ser considerada a melhor, porque, como é sabido, este tipo de resolução acaba enfraquecendo drasticamente o país, além de acarretar embates que terminam invariavelmente em banhos de sangue.

Do mesmo modo, é fundamental que os cidadãos de países em que a democracia já se estabeleceu há tempos - ou há poucos anos, como no caso do Brasil – sejam veementemente contrários a qualquer forma de censura por parte de seus governantes, por menor que ela pareça ser.

Nenhuma forma imposta de governo é salutar, a História comprova isso. A atual situação no Irã é um exemplo de que, tão logo surja uma oportunidade, uma população insatisfeita com seu governo irá se insurgir contra ele. Os iranianos têm usado de meios pacíficos e modernos para protestar contra a tirania dos aiatolás e de títeres políticos como Mahmoud Ahmadinejad. É impossível não se solidarizar com a luta do povo iraniano por liberdade. As imagens e mensagens que correram o mundo pela internet denotam um grande clamor de esperança, de justiça, de tolerância. E esse é também o sentimento de todos os que acreditam, sem qualquer pieguice ou saudosismo utópico, num mundo melhor.

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Esta canção deliciosamente utópica de Marisa Monte, Vilarejo, do álbum Infinito Particular, fala de um lugar em que vários povos convivem em harmonia.

2 comentários:

  1. Caro Bruno, realmente a liberdade de expressão é um bem do homem, para que ele como cidadão, conscio dos seus direitos, lute pelas melhorias sociais, combatendo incessantemente as injustiças e as intolerâcias, com o fim de aperfeiçoar cada vez mais a democracia. Um abraço, Armando

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  2. Armando,

    acredito que não podemos deixar de manifestar nossa indignação nunca. O silêncio é, em muitas ocasiões, permissivo, e, por conseguinte, pernicioso.

    Abraço!

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