quarta-feira, 4 de março de 2009

Everything is broken

No post anterior, compartilhei um triste dado acerca da nossa sociedade com vocês: o uso irresponsável e aleatório de psicotrópicos. Acredito que a onipresença da finitude que nos assola (violência urbana e doméstica, crise econômica, aquecimento global) esteja nos fazendo recorrer a esses medicamentos. Essa, contudo, é uma análise bastante superficial. Cada um "se droga" por um motivo singular. E nós não começamos a nos drogar ontem.

Eu faço uso de um mesmo antidepressivo há cerca de seis anos. Tomo porque, segundo o médico com o qual me trato, sou um ansioso crônico. E o tratamento contínuo com cloridrato de paroxetina ajuda a mitigar minha ansiedade, e, principalmente, a impedir que em certos momentos ela chegue a um patamar tal que me leve a sofrer graves crises de pânico. Nunca contei isso a meus amigos. (Talvez eu me arrependa de fazê-lo agora.) Sempre tive vergonha. Por mais que hoje haja muita informação ao alcance de todos, muita gente ainda tem preconceito contra o usuário de psicotrópicos. Na última ficha de emprego que preenchi, omiti o fato de usar um medicamente diariamente. Achei melhor assim. Talvez eu tenha agido errado, mas não estou em condições de ponderar sobre isso agora.

Queremos dizer a verdade, mas não dizemos a verdade. Quando muito, nos aproximamos da verdade. Desejamos ser francos e honestos, porém nunca o somos completamente. Por medo de sermos rejeitados, escondemos nossa vergonha. Até que um dia ela vem à tona intempestivamente e nos envenena. Chafurdamos nela, a lama da nossa vergonha omitida.

Escrevi um livro de ficção para expor minha vergonha publicamente. Enviei-o a alguns editores e recebi recusas. Enviei-o para a apreciação de escritores "consagrados" e recebi elogios, reprimendas, e comentários mais ou menos gentis e encorajadores. Por fim, decidi enviá-lo a um concurso literário e o fiz. O resultado deve sair ainda neste mês. Não tenho muita esperança - e sinceramente nem sei se quero vê-lo publicado. Talvez seja contraproducente.

Queremos dizer a verdade, mas...

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Planet Telex, Radiohead

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