sábado, 25 de abril de 2009

Relendo velhos cadernos

Escarafunchando a gaveta da escrivaninha à cata de um cartão com o telefone de um amigo, encontro antigos caderninhos de apontamentos do tempo em que eu era um “escritor sério” que não deixava nenhuma idéia escapar, por menos auspiciosa que ela fosse. Há tempos me tornei um escritor relapso que vive fugindo ao trabalho, alegando falta de inspiração, essa quimera na qual a gente sem talento vive se fiando. Não sei quantos meses faz que não concluo um conto ou um capítulo de romance que preste. Tenho relido amiúde meus contos e pedaços de ficções antigas, principalmente o mais que citado Paroxetina, este elefante branco ao qual não sei que destino dar. Não raro topo com citações anotadas há anos, algumas muito interessantes e justificáveis, outras que denotam o garotinho perdido que eu já fui e que, em certa medida, ainda continuo sendo.

Minhas cadernetas são as mais vagabundas possíveis; nada de moleskine ou obviedades semelhantes; sempre usei brochuras da credeal que não custam mais que R$ 2,00 e podem ser adquiridas em qualquer birosca. Nunca tive letra bonita nem fui caprichoso. Também nunca zelei pela ordem ou por uma “metodologia de pesquisa” pré-definida. Esses caderninhos estão repletos de rascunhos, citações, telefones, endereços, anotações de aulas, e vários outros escritos misturados. É estranho folheá-los e encontrar minutas de contos e do meu único romance concluído. Dá uma certa satisfação saber que aqueles embriões se converteram em textos literários completos e legíveis. A sensação de ter concluído alguma coisa é muito boa. Mas para cada “embrião ficcional” que rendeu peças literárias inteiras há pelo menos outros dez que não deram em nada. O que menos se aproveitou foram os versos. Ainda bem que tive discernimento suficiente para abortar aqueles poemas tenebrosos. E pensar que cheguei a ser elogiado como poeta por muita gente leiga e amiga. Um conselho: não se deve submeter obras de arte à apreciação crítica de amigos; o parecer nunca será 100% honesto.

A seguir, uma citação de João Antônio extraída da ótima coletânea de perfis do escritor /jornalista / crítico literário José Castello, Inventário das Sombras:

Em matéria de coisas humanas, não devemos temer os exageros nem as imperfeições, pois eles são por fim o que sobra do homem.

Gosto bastante da obra do João Antônio. Tenho dois dos seus principais livros: Malagueta, perus e bacanaço, e Abraçado ao meu rancor – ambos comprados em sebos.

Por ora é só. Mas pretendo voltar a esse assunto mais tarde. Preciso comer alguma coisa. Nem só de café vive o homem.

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