quinta-feira, 9 de abril de 2009

Gabo é fã de Nelson Ned

Esta semana o Jornal da Globo exibiu duas reportagens sobre a aposentadoria de Gabriel Garcia Márquez. A primeira foi ao ar na quarta-feira e se restringiu a uma notinha sobre o fato de o célebre escritor colombiano, autor de clássicos como Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, ter feito saber ao mundo, por meio de um agente, que deixará de escrever. A segunda - espécie de mea-culpa em relação à primeira, uma reportagem pobre demais até para os padrões televisivos - foi exibida na quinta, e contou com um breve perfil de Gabo, como ele é conhecido entre os amigos, além de exaltar o prêmio Nobel recebido por ele em 1982. Embora um pouco mais elaborada que a primeira, esta última matéria não conseguiu desfazer a impressão de que a notícia era irrelevante – não obstante a popularidade do escritor.

A meu ver, a única informação realmente importante dada pelo telejornal foi que Garcia Márquez, também conhecido por seus gostos exóticos (sic), é fã de carteirinha do cantor brasileiro Nelson Ned. Taí, gostei. Eu não sabia. Não sou fã de Garcia Márquez nem de Nelson Ned, embora admire alguns livros do primeiro e respeite a trajetória do segundo. E meu respeito por Nelson Ned advém do fato de ele ser um homem que venceu exclusivamente pelo talento. Ou alguém acha que o cara é só um rostinho bonito? Nós, os feios, os desajustados, os desempregados, os misantropos, os ansiosos crônicos, os escritores não publicados, cineastas sem filmes, pintores sem tela, os amantes do inútil, enfim, toda essa fauna de marginais e marginalizados, regozijamos quando uma criatura da nossa estirpe vence pelo talento. Nós temos orgasmos múltiplos. (Eu tenho!)

Por exemplo, quando vejo um ator / atriz (ou qualquer outro artista) fazer sucesso única e exclusivamente em razão da sua capacidade, fico felicíssimo. Significa que a pessoa chegou lá por suas qualidades realmente importantes. Não foi porque era linda, ou porque pertencia a uma classe de privilegiados qualquer, mas porque seu talento era indiscutível. Há inúmeros exemplos de gente assim. Vou citar um: Woody Allen. Goste-se ou não da obra dele, há que se reconhecer que ele se tornou um artista mundialmente respeitado por ser multitalentoso. Aliás, o tipo esquisitão que o diretor criou no cinema pode ser considerado uma figura icônica do mundo freak. Desde que seu personagem desajustado porém safo surgiu (salvo engano) no filme Bananas (1971), nós acompanhamos, filme após filme, suas desventuras e o modo como, ao final, ele sempre se dá bem. Basta listar a quantidade de mulheres lindas e inteligentes que foram suas amantes. De passagem, listo Mia Farrow, Diane Keaton, Julia Roberts, Mira Sorvino, Charlize Theron, entre outras. E o mais interessante é que, para se dar bem, por assim dizer, o tipo atrapalhado de Woody Allen nunca faz concessões: segue fiel a seu estilo, e cativa as mulheres por isso.

No filme Fatal (2008), baseado no romance O Animal Agonizante, de Philip Roth, a certa altura o personagem principal, um professor universitário (Ben Kingsley) na casa dos sessenta que tem um caso com uma aluna trinta anos mais jovem (Penélope Cruz), diz mais ou menos o seguinte: Quando fazemos amor com uma mulher, é como se nos vingássemos da morte. Inspirado nesta frase, eu diria que, quando uma pessoa “fora dos padrões” conquista um lugar de destaque, todos os freaks se vingam da vida.

P.S. - este texto também pode ser lido no ímpar-par americano, bloguinho que criei para publicar alguns comentários, rascunhos de ficções, cartas abertas, mensagens engarrafadas - enfim, nada muito distinto deste sítio; o que os difere é o fato de seus layouts serem diferentes: o ímpar-par, por exemplo, possui fundo branco.

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