domingo, 10 de maio de 2009

Dez anos depois

É comum em entrevistas de emprego o recrutador perguntar ao candidato como ele se imagina dali a dez anos. Tal pergunta tem o propósito de aferir o grau de objetividade do candidato, e como ele se posiciona diante da vida. Falar bobagem nessa etapa é dar adeus à chance de emprego. E como ter certeza de que sua resposta é original, e que, mais importante de tudo, irá agradar ao entrevistador? Difícil saber.

Minhas respostas sempre foram vagas, não raro insinceras. Mas não por desonestidade de minha parte, e sim porque nunca soube ao certo o que queria (quero) para mim no futuro. Em garoto eu vivia dizendo que gostaria de ser engenheiro, o que enchia meu pai de orgulho e esperança. Engenheiro, o filho teria emprego garantido e em poucos anos ganharia muito mais dinheiro do que ele ganhara a vida toda. Contudo eu sequer sabia no que consistia a profissão de engenheiro, tampouco que existem vários campos de atuação para esse profissional. Minha disposição de me tornar um engenheiro provia do meu desejo de ser rico - mais rico que meu pai, o que não era difícil -, e naquela época eu só conhecia três tipos de pessoas que ganhavam dinheiro: médicos, engenheiros, e artistas. Como sempre fui facilmente impressionável, nunca cheguei a aventar a possibilidade de me tornar médico. Já meu “lado artístico” nunca foi muito desenvolvido, apesar de eu ser dramático por natureza e viver imitando cantores populares e não tão populares assim longe de olhares críticos e / ou reprovadores. É verdade que houve uma época em que quis ser pintor, outra que quis ser roteirista de HQ, e, mais recentemente, um período em que desejei – ardorosamente, diga-se -, ser cineasta. Tudo ponderado, tratei de me colocar no meu devido lugar. Eu andei pensando em suicídio. Melhor dizendo, em quanto o suicídio é contraproducente. Acho que só acredito no suicídio como “expressão artística”, ou algo que o valha.

Daí que eu sempre fui um ator medíocre. E um notívago de quinta categoria. Quase nunca cedo meu lugar no ônibus por vergonha e ruborizo ante uma mulher bonita. Dizem que não acredito em Deus por preguiça, mas não é verdade (?). Falam de minhas carências sem ter coragem de sondar minhas virtudes. No fundo, sou um romântico - no melhor sentido do termo, qual seja o de alguém que ama o belo e reconhece as mazelas do mundo sem jamais tirar os pés do chão. Sei lá. Eu queria ser poeta. Mais combativo. Cara-de-pau. Um compositor popular, como já comentei aqui outro dia. Escritor? Não sei. Quero tanto que tenho medo. E, como dizia Clarice Lispector, quem tem medo de escrever jamais escreverá algo que preste.

Nesta semana inicio uma nova fase na minha vida. Não, não vou sair por aí com mochila a tiracolo, sem lenço nem documento, saudoso da época em que ser hippie era a única maneira decente de levar a vida. Vou começar num emprego novo. Vou trabalhar com finanças, empréstimos, juros simples e compostos. Vou de esporte fino. E vou graças à generosidade de um amigo, que acreditou em mim e me deu esta oportunidade. Um amigo.

Tento me imaginar daqui a dez anos, debalde. Tento me imaginar escritor. Mas mal consigo vislumbrar o que me aguarda daqui a dez dias. O presente é tão grande, cantava o poeta. Não nos afastemos. Não nos afastemos muito. E, se possível, vamos de mãos dadas.

***

2 comentários:

  1. já é difícil dizer de há dez anos, quem fui?

    ResponderExcluir
  2. Bruno, passei por aqui. Pra quem tem medo da escrita até que vc (ar)risca bastante bem. Insista. Abraço, Noga Sklar.

    ResponderExcluir