quarta-feira, 3 de junho de 2009

Eu ando pelo mundo prestando atenção em tudo... (1)

O governo do Estado de S. Paulo baniu os pobres (?) dos fumantes dos estabelecimentos públicos. A próxima providência deveria ser expulsar os espalhafatosos. 13:40 - apenas um terço das mesas do restaurante estão ocupadas. Meia dúzia de gatos pingados retardatários almoça rápida e silenciosamente; só se ouve o barulho de mastigação, de talheres que se chocam, e dos funcionários do estabelecimento. Vez ou outra a campainha do painel de senhas apita e todos (mesmo os que não aguardam pedidos) olham invariavelmente para o visor e acompanham a sucessão dos números: 21, 22, 23... 30, 31... Tudo na mais ordinária e reconfortante calma, até que uma voz altissonante e rouquenha abala a trama de placidez em que todos os comensais repousavam. Quase engasgo com um naco de carne vermelha. Mais que depressa me esforço por localizar a origem daquele grasnado, e após varrer brevemente o salão com minhas "retinas tão fatigadas", avisto a dona de tão incômoda voz. Uma loira alta e robusta, quase gorda, muito maquiada e vestida como uma boneca barbie. Seu discurso é mais potente que o de Heloísa Helena e o da ministra Dilma Rousseff, com a diferença de que não possui nenhum viés político; antes, está carregado de futilidade e, ainda pior, de intimidade. Em instantes todos os presentes tomam conhecimento de boa parte da vida pessoal e profissional da loira, com destaque para sua atribulada vida sexual. Que falta faz um "som ambiente" numa hora dessas, penso, uma vez que com o bom senso não se pode contar mesmo. A barbie grasna sem parar, expansiva, e sua vítima principal, a amiga com quem divide a mesa e uma porção de frango a passarinho, também parece um pouco constrangida diante de tamanha falta de compostura. Expõe indignações, resmunga em alto e bom som, confessa intimidades sem sequer ruborizar. Não contente com a pirotecnia verbal, ainda gesticula desbragadamente, à italiana. Deve ser surda, pondero sem qualquer ironia, mesmo não acreditando muito na hipótese. E seguimos almoçando sob a bufonaria da loira que, agora percebo, possui um belo par de seios, o que contudo não a redime. Termino minha refeição. Como de hábito, limpo a boca uma última vez antes de deixar a mesa. E, enquanto me encaminho para o caixa, sou surpreendido por um funk que eclode do nada e preenche em segundos todo o ambiente, causando risos e má digestão. O celular da loira começara a tocar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário