domingo, 18 de janeiro de 2009

Notas políticas



A recusa do governo brasileiro em extraditar o criminoso italiano Cesare Battisti é uma vergonha nacional. Ao conceder asilo político a Battisti, acusado pela justiça italiana de ter cometido quatro assassinatos na década de 70, o presidente Lula afronta o governo italiano, que supostamente não teria condições de garantir um julgamento justo e imparcial ao ex-terrorista.

Ex-militante de um grupo armado de esquerda responsável por uma série de atentados terroristas na Itália dos anos 70, Battisti vivia incógnito no Brasil desde 2004. Sua prisão ocorreu em março de 2007, no Rio de Janeiro, numa operação conjunta da polícia brasileira com a francesa.

Na semana passada, o ministro da justiça Tarso Genro anunciou a concessão de asilo político a Cesare Battisti – decisão que muito desagradou à Itália, onde ele foi condenado à prisão perpétua.

Tarso, como é sabido, foi militante de esquerda durante a ditadura militar. Recentemente, o ministro entrou em conflito com alguns setores do próprio governo e da sociedade por defender o indiciamento de ex-militares acusados de tortura na época do regime. Para Tarso, tortura não é crime político e nem tampouco prescritível. Portanto as leis de anistia não se aplicariam aos torturadores. Isso me parece bastante razoável. Mas não sei se essa “caça às bruxas” seria benéfica para o país. Temo que ela seja contraproducente. Mas, em todo caso, essa causa defendida pelo ministro me parece pertinente.

No caso de Cesare Battisti, a história parece ser outra. Ele foi julgado e condenado por um país reconhecidamente democrático e dotado de instituições responsáveis, e portanto capazes de fornecer um julgamento honesto a qualquer acusado. Se a justiça italiana falhou parcial ou integralmente ao condenar Battisti, não cabe ao governo brasileiro interferir.

Vale lembrar que quando dois atletas cubanos se desligaram da delegação daquele país, durante os Jogos Pan-americanos de 2007, e pediram asilo político ao governo brasileiro, não foram atendidos. Tiveram de voltar para os braços do “companheiro” Raúl Castro, que deve tê-los recebido com as condolências de praxe do regime ditatorial cubano.

***



O governo Bush agoniza. Na realidade, vem agonizando desde que eclodiu a crise econômica. Ao contrário do que muita gente acredita, Bush não é o demônio; não é sequer um parente próximo do tinhoso. O quadragésimo terceiro presidente dos EUA também está longe de ser um simplório – embora muitas vezes tenha feito por merecer o epíteto. Acontece que a chegada de Bush à presidência foi um erro desde o começo, basta lembrar o nebuloso episódio de contagem de votos no estado da Flórida. Em seguida vieram os atentados de 11 de setembro de 2001, tragédia que marcaria indelevelmente a administração Bush e que acabaria por balizar toda a sua gestão. As guerras do Afeganistão e do Iraque foram o corolário direto dessa enorme agressão sofrida pelos americanos. Há quem as defenda e quem as repudie. Eu acredito que a invasão do Afeganistão tenha sido inevitável, e que a ofensiva no Iraque foi um equívoco. Mas, assim como o recentíssimo episódio da retaliação israelense em Gaza, ambas as guerras deixaram feridas profundas e incuráveis. As “conquistas” políticas advindas dessas guerras jamais compensarão as inúmeras vidas inocentes que foram ceifadas. O sangue semeará a terra e dela brotará mais ódio.

Que venha Barack Obama. E que seu governo corresponda à enorme expectativa criada com sua eleição.

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