segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

É isto um blog?

"Portanto, é possível distribuir minha solidão, torná-la meio de conhecimento."
Carlos Drummond de Andrade.


Em meados de 2001 eu não sabia o que era um blog; pouca gente sabia. Só tomei conhecimento do que era um blog quando li uma reportagem na Folha de S. Paulo sobre essa nova mania entre os internautas brasileiros. A reportagem trazia uma lista de endereços com alguns dos blogs mais badalados do país. Assim cheguei, por uma irrefreável curiosidade, até o blog de uma curitibana de 15 anos, um ano mais jovem que eu à época.

Não recordo o nome da garota e tampouco o endereço do seu blog. Ela era bonita: morena clara, corpo esbelto, olhos amendoados. E inteligente também. Seu blog era estritamente um diário, em que ela descrevia suas atividades cotidianas, compartilhava gostos, dúvidas, anseios. Falava da família, do colégio, do namorado. Lembro que no primeiro post seu que li ela lamentava o fato de ter perdido uma lapiseira muito estimada. Parece que a tal lapiseira fora parar dentro de um lago perto da sua escola por um descuido, uma distração.

Passei a visitar seu blog quase que diariamente. Mas só tomei coragem para comentar um de seus textos depois de alguns meses. Fiz um comentário lacônico, cortes, piegas. Ela o replicou de maneira igualmente sucinta e cordial.

Quando lhe enviei um de meus contos por e-mail, ela o criticou de maneira polida, mas firme: o conto era uma merda.

A princípio fiquei magoado, mas logo a razão se impôs e eu concordei tacitamente com ela. O texto era horrível! De doer!

Essa foi minha primeira experiência como leitor de um blog. Como criador e mantenedor, só fui me arriscar dois ou três anos depois. Criei um blog, publiquei meu primeiro post, e saí correndo de vergonha. Dei um fim naquilo de saída. Ninguém tomou ciência daquela babaquice. Criei ojeriza a blog.

Só há pouco tempo voltei a ter prazer em ler blogs. Principalmente os dos escritores e jornalistas cujo trabalho admiro. Mas apenas como leitor. Continuava a me julgar incapacitado para desenvolver e fomentar uma publicação dessa natureza. Sempre tive a impressão (errônea!) de que a pessoa que mantém um blog tem por objetivo ensinar algo a outrem; que o intento principal de um blogueiro é direcionar a atenção do leitor para aquilo que ele julga essencial. Mas não é bem assim. Não posso falar por todos os blogueiros, mas, no meu caso, a “necessidade” de criar um blog surgiu do meu pendor para compartilhar coisas de que gosto, de que não gosto; que julgo essenciais ou dispensáveis; coisas sérias e coisas fúteis. Enfim, “compartilhar minha solidão, torná-la meio de conhecimento.”

Foi então que num domingo modorrento resolvi tirar o rabo do meio das pernas e partir para outra empreitada on-line. Desde então você (se é que você está aí) vem acompanhando o resultado dessa incursão. Não tenho nada a ensinar a você. Não quero ensinar nada a você. Eu não sou melhor, não sou mais inteligente, mais bem-humorado, informado, solitário, feliz que você. Eu ando por aí com a cabeça cheia e os bolsos vazios, querendo (e temendo) encontrar você. Eu sou ridículo! Graças a Deus! E este blog é um elogio à imperfeição - ao ridículo. Nada mais que isso.

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