Resolvi publicar aqui alguns trechos do meu romance inédito, Paroxetina, que, como vocês já sabem, foi finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2008 e recebeu menção honrosa da comissão julgadora.
A seguir, um trechinho da segunda parte do livro, intitulada Um mar de cafeína:
Foi o próprio dr. Moraes quem o indicou. Numa conversa particular com minha mãe, o médico veterano falou a respeito desse jovem psiquiatra da cidade de Lorena, que, segundo ele, poderia tratar do meu caso. Isabel disse que me acompanharia ao consultório do tal médico, e eu não tive como recusar. Também estava cansado de viver com medo do próximo passo que daria. O ambiente ao meu redor podia, de uma hora pra outra, transformar-se numa esfera inóspita e ameaçadora sem que eu tivesse discernimento o suficiente para provar a mim mesmo que as sensações de pavor e de iminência da destruição não passavam de invenção da minha própria cabeça. Ou, colocando de um outro modo: o mundo à minha volta continuava o mesmo; era o meu corpo que criava a sensação de perda de controle, de perigo de morte. Tudo estava relacionado a um distúrbio orgânico que gerava crises de falta de ar, taquicardia, sudorese, medo do desconhecido. E, embora eu houvesse lido bastante a respeito da síndrome do pânico em jornais, revistas e sites na internet, quando uma crise eclodia, esse parco conhecimento adquirido não era suficiente para fazer com que eu a suprimisse. Então acabava por amargar mais uma “crise de nervos”, por assim dizer, e sempre saía dela como se estivesse acabado de disputar uma luta frenética com um pugilista cem vezes mais forte do que eu.
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