sábado, 6 de junho de 2009

Eu ando pelo mundo prestando atenção em tudo... (2)

Semana passada meu chefe me perguntou do que eu menos gostava na vida. Estávamos sozinhos no escritório, ali por volta de meio-dia e meia, e de repente ele parou o que estava fazendo no computador, contornou sua baia e veio na minha direção. Com o mesmo ar enigmático de quem está perto de solucionar um grande mistério, ele me encarou: De que você realmente não gosta? O que mais o aborrece? Surpreendido por aquela pergunta fora de hora e de contexto, refleti durante cerca de vinte segundos antes de responder que o que mais me desagradava era a ignorância. A ignorância das pessoas. Mas essa é uma resposta muito vaga, ele objetou. Durante sua entrevista de emprego você me disse que o que mais o chateava era ter de varrer a casa, ajuntou. Sim, mas na ocasião você indagou qual a tarefa doméstica de que eu menos gostava, justifiquei. Então ele pôs-se em marcha mais uma vez, as mãos ocultas nos bolsos da calça verde-escura e exemplarmente vincada, e só depois de desarmar a expressão insondável que o caracteriza sempre antes de uma abordagem, voltou à carga: Eu não gosto de almoçar sozinho, entende? Isso sim é uma resposta objetiva, direta. Eu não sabia aonde ele queria chegar. Mas insisti na questão da ignorância. Que não suportava pessoas que além de não saber se negam a tomar conhecimento de qualquer coisa. Que tinha ojeriza a intolerâncias de quaisquer espécies. E que perto disso varrer o chão de casa chegava até a figurar como uma tarefa agradável. Entendi. Agora entendi, ele disse por fim, retornando à sua baia e retomando o trabalho no computador que abandonara minutos antes, quando fora acometido por aquela súbita e estranha curiosidade.
***
Após esse episódio, lembrei de uma canção de Adriana Calcanhoto, a qual gostaria de compartilhar com vocês e com meu distinto patrão:

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