“Lembro de um período do final da adolescência em que minha
mente ficava embriagada com imagens de aventuras. É assim que vai ser quando eu
crescer. Eu vou lá, vou fazer isso, vou descobrir aquilo, vou amá-la, depois
ela, ela e ela. Vou viver como as pessoas vivem e sempre viveram nos romances. Em
quais eu não tinha certeza, só que paixão e perigo, êxtase e desespero (mas
depois mais êxtase) estavam à minha espera. Entretanto... quem foi que disse
aquilo sobre “a pequenez da vida que a arte exagera”? Houve um momento quando
estava me aproximando dos trinta anos em que eu admiti que meu amor por
aventuras já tinha acabado há muito tempo. Eu jamais iria fazer coisas que
havia sonhado na adolescência. Em vez disso, eu aparava a grama, tirava férias,
tinha a minha vida.
Mas o tempo... como o tempo primeiro nos prende e depois nos
confunde. Nós achamos que estávamos sendo maduros quando só estávamos sendo
prudentes. Nós imaginamos que estávamos sendo responsáveis, mas estávamos sendo
covardes. O que chamamos de realismo era apenas uma forma de evitar as coisas
em vez de encará-las. O tempo... nos dá
tempo suficiente para que nossas decisões mais fundamentais pareçam hesitações,
nossas certezas, meros caprichos.”
Trecho do romance "O sentido de um fim", de Julian Barnes
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