Nasci em 1984, em pleno processo de abertura política, de redemocratização. Não vivi, portanto, os chamados “anos de chumbo” da ditadura, mas nem por isso tenho uma visão romântica do período. Todo o material que li, ouvi, e vi a respeito da “revolução” de 1964 é suficiente para que eu não incorra na leviandade de acreditar que a repressão político-ideológica por parte do governo da época tenha sido branda. Não foi. Está documentado. Nosso regime pode até não ter sido tão mortal quanto o foram o argentino e o chileno, mas foi violento, torturou, matou, deixou graves seqüelas.
Por isso é fundamental a criação de livros, filmes, museus etc. sobre as nossas “tragédias históricas”. Para que não as esqueçamos. Para que não se repitam jamais.
Por isso é fundamental a criação de livros, filmes, museus etc. sobre as nossas “tragédias históricas”. Para que não as esqueçamos. Para que não se repitam jamais.
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No livro Meu Querido Vlado (editora Objetiva), o jornalista Paulo Markun narra sua experiência como preso político e as circunstâncias que envolveram a prisão e a morte de seu amigo, o também jornalista Vladmir Herzog.
Há no livro trechos de depoimentos de outros presos políticos e de documentos oficiais da época que comprovam a brutalidade do regime.
A seguir, dois documentos extraídos do livro: uma recomendação de um chefe do Doi-Codi paulistano para tratamento de um preso, e o relato desse mesmo preso sobre as máquinas de aplicar choque utilizadas pelos militares.
Tratamento de Marco Antônio T. Coelho. Proibição de usar roupas, colchão, coberta, proibição de fumar e ler jornais; só pode tomar o café-da-manhã (pão e um caneco de café com leite) e uma colher de arroz no almoço e outra no jantar; só pode beber um caneco de água por dia (duas vezes, um caneco pela metade); deverá ser interrogado das nove da manhã até sete horas da manhã do dia seguinte, sem interrupção. Essa é uma determinação para as turmas A, B e C, a fim de quebrar a pretensa superioridade intelectual e cultural desse elemento.
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Quando lá passei existiam três dessas máquinas. Elas são armadas em caixas de madeira, mais ou menos toscas. A menor, a que chamam de “pimentinha”, foi pintada de vermelho; outra chamam de “brochômetro” e outra tem um dizer gravado – “saudações revolucionárias”. Às vezes ligam em série duas ou três dessas máquinas ao mesmo tempo. No principio, os fios são ligados nas mãos e / ou nos pés; depois passam para o pênis; em seguida “evoluem” para os tímpanos e a boca.
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