A linguagem em Angústia é extremamente concisa e percuciente. A sensação de asfixia gerada pelos períodos curtos e a aspereza dos adjetivos denotam o mal-estar do narrador frente ao mundo. Como ressaltei anteriormente, não obstante seu relato seja marcado pela desesperança e pelo ódio, de um modo geral Luis da Silva sente compaixão pela gente humilde com que ele convive. Dona Adélia, por exemplo, a mãe de Marina, fora “carrapeta”, vivaz, e não devia se sentir culpada por ter se transformado numa pessoa infeliz. Já o marido, Seu Ramalho, é um homem trabalhador e honesto, que não merecia o desgosto causado pela leviandade da filha. Seu Ivo é um sujeito imprestável mas bom, que ora amarga a ira de Luis, ora goza de sua generosidade. A prostituta, a empregada, a datilógrafa, o pai, o avô (Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva), os antigos escravos e empregados da fazenda – todos perpassam as memórias de Luis da Silva, que os descreve de maneira sóbria e ampla, expondo suas faltas e suas virtudes. A única personagem que não recebe qualquer misericórdia por parte do narrador é Julião Tavares, a personificação do que Luis da Silva julga haver de pior num ser humano.
Os ratos que infestam a casa de Luis da Silva “mijam na literatura”; Marina faz a higiene no banheiro do quintal, dá uma “mijada sonora.”A poesia em Angústia é de origem orgânica: cheiros, feições e fluidos são evocados ao longo de todo o romance, compondo uma atmosfera poética única em nossa literatura, que talvez só encontre paralelo em algumas obras de Aloísio Azevedo, como O Cortiço.
Luis da Silva se ufana intimamente de sua erudição, mas nunca a alardeia. Tanto o repugnam as pessoas que desprezam a educação e a cultura quanto os beletristas, os parnasianos e seus preciosismos. É inclemente com os livros ruins e seus autores, tal qual Graciliano tinha fama de ser. Aliás, é fácil, e por isso mesmo perigoso e inapropriado, identificar semelhanças entre autor e personagem. Como todo grande ficcionista, Graciliano Ramos certamente deve ter emprestado muito de si a Luis da Silva. Vícios e qualidades do mestre devem ter sido empregados na construção dessa personagem tão complexa e fascinante que é Luis da Silva, alguém com quem nos identificamos por ser, em certa medida, parecido com todos nós.
Os ratos que infestam a casa de Luis da Silva “mijam na literatura”; Marina faz a higiene no banheiro do quintal, dá uma “mijada sonora.”A poesia em Angústia é de origem orgânica: cheiros, feições e fluidos são evocados ao longo de todo o romance, compondo uma atmosfera poética única em nossa literatura, que talvez só encontre paralelo em algumas obras de Aloísio Azevedo, como O Cortiço.
Luis da Silva se ufana intimamente de sua erudição, mas nunca a alardeia. Tanto o repugnam as pessoas que desprezam a educação e a cultura quanto os beletristas, os parnasianos e seus preciosismos. É inclemente com os livros ruins e seus autores, tal qual Graciliano tinha fama de ser. Aliás, é fácil, e por isso mesmo perigoso e inapropriado, identificar semelhanças entre autor e personagem. Como todo grande ficcionista, Graciliano Ramos certamente deve ter emprestado muito de si a Luis da Silva. Vícios e qualidades do mestre devem ter sido empregados na construção dessa personagem tão complexa e fascinante que é Luis da Silva, alguém com quem nos identificamos por ser, em certa medida, parecido com todos nós.
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