Duas entrevistas. Dois escritores brasileiros contemporâneos. E dois “conselhos” àqueles que pensam em se dedicar à literatura.
Primeiro, um trecho da entrevista que o escritor Cristóvão Tezza, autor do celebrado romance O Filho Eterno, concedeu à jornalista Teresa Chavez, da Folha Online:
Folha Online - Para o sr., qual é o papel que a literatura tem na formação das pessoas hoje? O livro, como objeto, supre toda a necessidade de informação do mundo atual? O sr. encorajaria alguém a se tornar escritor hoje, apesar das rejeições sucessivas e desencorajadoras que descreve em "O Filho Eterno"?
Tezza - A literatura é um universo paralelo não oficial, uma linguagem capaz de abarcar, mimetizar e transformar todas as linguagens do mundo, sem se confundir com nenhuma delas. Tudo pode ser recriado pela literatura --a história, a ciência, a informação, a ética, a religião --numa dimensão muito mais ampla do que nos seus limites originais. O seu objeto não é a verdade, mas o homem que pensa sobre ela, de um modo que nenhuma outra linguagem consegue. E vendo de um outro modo, a literatura é um belo instante de solidão, para respirar nessa loucura toda. Bem, o livro é um objeto absolutamente fantástico, e a leitura é um processo exigente, muito mais que todos os recursos audiovisuais do mundo contemporâneo. Encorajar alguém a se tornar escritor? Acho um pouco assustador --é realmente uma escolha que deve ser tomada em solidão.
A seguir, uma parte da fala do escritor Sérgio Rodrigues, autor do “romance histórico” Elza, a garota, ao jornal Rascunho do mês passado:
Rascunho - Que conselho o senhor daria a alguém que deseja dedicar-se à literatura no papel de escritor?
Sérgio - Meu conselho-padrão, que muita gente acha que é piada mas é sério, costuma ser o seguinte: desista se for capaz. O mundo da literatura parece muito charmoso e tal, mas a verdade é que o jogo é muito duro e nem sempre leal, as recompensas são fugidias e as chances de fracasso - não só comercial, mas estético mesmo - estão todas contra você. Agora, se depois de considerar tudo isso o sujeito ainda for incapaz de desistir do seu plano maluco, então é escritor mesmo, e nesse caso todos os conselhos se tornam fúteis. Cada um tem que encontrar seu próprio caminho. Ler muito, ler tudo, e não ter pressa demais de publicar talvez sejam recomendações úteis. Arranjar um jeito de sustentar seu "vício" também me parece um bom toque. A menos que seja rico de berço ou de baú, um escritor deve ter outra profissão, sob pena de ser levado pela ânsia do profissionalismo a vender seus escritos cedo demais, tornar-se um marqueteiro juramentado ou sair à caça de bocadas estatais - e nada disso é muito saudável para aquilo que realmente importa, isto é, o texto.
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